22.3.10

O que é hoje afinal o "CCA Gonçalves Correia"?

Por ocasião do lançamento do novo número da Alambique achamos que deviamos, junto de tod@s, frisar dois aspectos essenciais para que este nosso "projecto" seja devidamente situado e as coisas postas preto no branco tal como são.

Não existe hoje em Aljustrel um Espaço Anarquista.
Ou seja um espaço fisico devidamente identificado como um Centro de Cultura Anarquista. Apesar de por nós alertado desde o inicio (ver primeiro post deste blog em Agosto de 2006) o chamado CCA Gonçalves Correia desenvolveu-se como projecto de actividades (no seguimento do projecto que comportava a designação de CCA vindo desde 2003 de Ferreira do Alentejo) num espaço pré-existente que é o Club Aljustrelense. Uma coisa foi sempre o Club, outra distinta o CCA. Dada porém a intensa actvidade desenvolvida desde 2006 a 2008 pelo CCA dentro do Club, as duas coisas normalmente passaram como uma só. E como já haviamos dito há um ano atrás (editorial do Alambique 2) fomos por isso mesmo ultrapassados pela designação de Centro de Cultura Anarquista e tudo o que ela comporta. E se durante esse período essa associação do projecto fez algum sentido em ser vista como um Espaço, por via da nossa mais ou menos regular actividade e interacção desenvolvida no Club, já desde finais de 2009 que o mesmo já não faz sentido. O nosso afastamento ao local como espaço fisico e a perca de laços com os restantes frequentadores do Club, dita com toda a honestidade que a designação de "Espaço" ao CCA lhe seja retirada.
Repetindo o que já antes dissemos: (...) não pretendemos minimizar o que foi sendo feito, e muito menos a presença de um local em Aljustrel (e sobretudo o que este proporciona), mas na verdade por muito mais que tod@s o desejássemos, este espaço nunca se concretizou ele mesmo, e por si, num Centro de Cultura Anarquista (...)

Esta desagradável constatação (mas como sabemos não uma novidade) não significa que tenha deixado de haver no Baixo Alentejo (a geografia lata adequa-se melhor) um "projecto" anarquista. Por isso continuamos e queremos continuar como um colectivo que se constroi em torno da reunião de distintos individuos e cuja dinâmica ditará o que vier e nos convier. Para lá da Alambique pretendemos surgir com actvidades e ideias em distintos pontos na nossa envolvência, dos quais o Club Aljustrelense será apenas um possível ponto de encontro do qual apenas fazemos votos que permaneça como espaço possível de actvidades, como o é de concertos.

15.3.10

Sábado em Aljustrel (Adiado)




14.3.10

Saiu a Alambique






Do editorial…

As páginas que se seguem cruzam-se propositadamente entre si. Nelas surge um olhar para um passado (recente), que não tem outro objectivo senão o de querer experimentar agora um possível futuro. Quisemos reaver uma história cujo silêncio dos seus protagonistas – a geração dos nossos pais – é muito mais incómoda do que a lembrança diária de vivermos numa sociedade alienada. Daí a importância, como nos diz Jorge Valadas, de recuperar na nossa memória social as virtualidades da insurreição social do 25 de Abril. E ver que o problema não foi a derrota, mas a integração e a submissão desses homens e mulheres cujos valores transmitidos aos seus filhos assentaram unicamente nos valores consumistas desta sociedade capitalista do bem-estar e do progresso.

Hoje não se luta por grandes ideais. Mas os anarquistas sabem-se acompanhados na crescente conflituosidade social de quem hoje luta pela sua sobrevivência quotidiana. Por mais “planos tecnológicos” de desenvolvimento que nos rodeiam e que nos prometem, o sistema é cada vez mais incapaz de esconder os sinais da sua própria crise e falência. O cada vez maior aparato estatal e de controlo que nos cerca, apenas nos envolve cada vez mais nesse estado de latente conflito, sobre o qual a principal preocupação que reina, é a de que por via do medo nos digladiemos apenas uns com os outros e não saibamos dirigir pronta e directamente o ataque.

A necessidade de referências, é pois, mais do que nunca necessária para ajudar a agir e a pensar o futuro. Uma das referências que temos insistido surge em torno da “ruralidade”. Porque no evoluir da relação do Homem com o Campo se explica hoje boa parte do desastre da presente humanidade, edificada que foi esta numa relação do domínio tecnológico e economicista sobre a natureza. Uma relação que esvaziou e impediu a sã relação do homem com a terra, naquilo que era a ruralidade. Reivindicar essa memória telúrica com a natureza, não só é urgente como pode acontecer em várias e diversificadas experiências que podemos empreender.

Estes caminhos futuros não serão possíveis sem um compromisso, antes de tudo individual, e o qual, por diversas formas, assumirá um sem fim de possibilidades. E para que ainda estejamos a tempo, não há lugar nesse caminho ao consenso com o desenvolvimento capitalista que agora dizem de sustentável. Como não há tempo para que as nossas vidas sejam mediadas pelo sindicalismo que negoceia a “paz social” com os patrões, ou com os ecologistas que se esgrimem por um minuto verde nestas horas de morte… “A ruptura, quando existiu e se existir de novo, só será possível a partir de um movimento social profundo que põe em causa os fundamentos da produção actual, a sua lógica”.