“Pensar o mundo. Pensar a nossa vida e lutar para que se transforme”
“Reside ainda hoje em Aljustrel uma memória de reivindicação que não surgiu unicamente das lutas laborais. Surgiu ligada à idéia de um novo mundo”, diz Samuel Melro, um dos impulsionadores do Centro de Cultura Anarquista Gonçalves Correia, na cidade rural de Aljustrel, em Portugal. Na entrevista a seguir, ele fala sobre este centro cultural, ecologia e um pouco do anarquismo em portugal.
Agência de Notícias Anarquistas > Tem tradição histórica o anarquismo em Ajustrel?
Samuel Melro < Sim. À semelhança de todo o movimento operário e social do início do século XX, também em Aljustrel o emancipar social e do movimento sindicalista esteve ligada às idéias libertárias. Aljustrel, no meio de um sul de Portugal rural e agrícola, constituía a par de S. Domingos e Lousal um centro mineiro. A grande exploração iniciada nos finais do séc. XIX marcou para sempre esta vila como vila mineira. Nunca mais o deixou de ser. A memória social das várias gerações até aos nossos dias é esboçada pela Mina, pelos bairros mineiros, pelas gerações de pais e de filhos que trabalharam na mina [e agora que pretendem retomar a sua laboração a isso aspiram]. Foi nesse âmbito, nas 3 primeiras décadas do século passado, que o anarco-sindicalismo da CGT naturalmente surge na crescente tomada de consciência social que se observava. Um processo guiado, sobretudo, mais do que pela ação deste ou daquele sindicalista [ainda que importantes], pela sociabilidade que estava na base da organização informal dos trabalhadores. É, sobretudo esse aspecto de “sociabilidade operária”, que Paulo Guimarães retrata nos estudos que fez sobre o movimento social de Aljustel [companheiro acadêmico, colaborador do jornal A Batalha], que caracterizava o anarquismo em Aljustrel. As greves de 1922, tendo resultando numa campanha de solidariedade nacional notável [por exemplo, os filhos dos grevistas eram enviados para famílias de acolhimento de companheiros anarco-sindicalistas em todo o país…], são geralmente apontadas como o grande exemplo desse período, ao qual podemos traçar afirmativamente a tradição histórica de que perguntas. Dos anos 30 para a frente, pela longa ditadura, o movimento de oposição resulta já dirigido pelo Partido Comunista que soube beber inicialmente na fonte anarquista a sua força de ação. Resumindo, reside ainda hoje em Aljustrel uma memória de reivindicação que não surgiu unicamente das lutas laborais. Surgiu ligada à idéia de um novo mundo [por exemplo, Aljustrel por outra via teve uma forte implantação e difusão do esperanto…] onde a solidariedade e a afinidade desempenharam papel fundamental numa perspectiva mais coletiva das aspirações das pessoas, coisa que findo o longo período de resistência se conseguiu esbater tremendamente em coisa de 30 anos após o 25 de Abril. Foi por respeito a esta memória [e à tradição que questionavas] que num texto de apresentação do CCA citamos uma afirmação de 1913 do Sindicato Mineiro em que diziam que, “se fossemos vaidosos enfileiraríamos ao lado dos políticos socialistas ou republicanos, campo aberto a todos os ambiciosos. Somos, porém, humildes porque somos operários, aspirando somente a juntar o nosso insignificante esforço aos dos que sinceramente lutam pela emancipação de todos os filhos do Trabalho. Temos pouca instrução, é certo, mas somos sinceros, sabendo apenas dizer o que sentimos, o que sofremos”. Cem anos depois, mantemos como ponto de partida o mesmo posicionamento.
ANA > E quais as atividades do Centro de Cultura Anarquista Gonçalves Correia? Desde quando vocês tocam este projeto?
Samuel < Sob essa designação, apenas desde setembro deste ano. Porém nada seria possível senão fosse o anarko punk ter entrado pelas cabeças adentro de uma série de malta em Aljustrel e Ferreira do Alentejo. Na primeira vila obrigatoriamente falando da banda Dissidentes do Projeto Estatal, alma punk da terra que, por exemplo, veio a gerar algumas fanzines, como a Saltareguinga que persiste e resiste ainda hoje… Estes vêem a cruzar-se com outros revoltados em Ferreira do Alentejo [hoje com a banda Disgraça] a quem se deve a iniciativa de em 2003 fundarem aí uma associação libertária, que conseguiu reunir e juntar uma série de companheiros que andavam dispersos pela zona. Aí por exemplo entro eu de forma mais regular. Porém a perca do espaço físico onde fazíamos as nossas atividades levou à sua estagnação. Como já havíamos previsto o espaço de encontro passou a concentrar-se em Aljustrel, onde o Anarko Punk se mantinha vivo numa série de concertos numa sala do Sindicato Mineiro e desde há um ano para cá no Clube Aljustrelense. Acabamos todos por vir ir a dinamizar esse espaço recreativo – verdade seja dita parece-me que é o único, ou dos poucos [visto que acabou a Zaragata em Setúbal], espaços que mantêm o verdadeiro espírito anarko punk por estes lados.
Fazemos questão, porém em separar as águas. Isto é, por um lado está o Clube Aljustrelense [sociedade recreativa que por uma ironia fenomenal foi fundado há cem anos atrás pelos monárquicos, oligarcas e freqüentada pelos fascistas salazarentos, e hoje leva conosco em cima!] e por outro lado o CCA. No fundo somos o mesmo coletivo, vindo da associação de Ferreira, que agora arranjou um espaço onde colocar a sua biblioteca em formação [junto a uma sala de ensaios] e onde realizar as suas atividades. Os nossos objetivos, julgo que para já, não deixam de ser os mais simples, por necessidade de terem de ser os mais realistas. Em primeiro lugar construir ou consolidar a nossa afinidade interna, sem a qual nada poderemos esboçar com pés e cabeça daqui para a frente. Este processo faz-se paralelo à divulgação e promoção de uma série de iniciativas que visam a divulgação do ideal ácrata e de um sem números de pontos de contato com várias lutas sociais, ecológicas etc., e que obedecem a duas preocupações/objetivos constantes – e cientes a qualquer um de nós: em não nos fecharmos num clube, numa tribo, numa tertúlia ou no quer que seja, e ainda em conseguir que novas pessoas venham a formar parte do projeto e lhe dêem continuidade. Esta é de momento a nossa maior luta. Desafio acrescido, uma vez que, como não podia deixar de ser o Clube é visto por muita gente de Aljustrel como antro de drogados, pela diferença que o punk traz consigo. Mas conscientes disso, e sem abdicar da nossa “alma”, estamos certos que o caminho far-se-á em mostrar que a única droga verdadeira está na mente subjugada das pessoas que nos olham, sem querer reconhecer que em mais nenhum lugar das redondezas surgiu um grupo de jovens com uma idéia, essa sim esquisita aos olhos de hoje: pensar o mundo. Pensar a nossa vida e lutar para que se transforme.
ANA > Li alguma coisa sobre Gonçalves Correia, e parece que ele era vegetariano, não? Sabe dizer se houve experiências naturistas libertárias em Portugal, como colônias?
Samuel < Em primeiro lugar talvez seja importante referir porque assumimos um nome tão pomposo e à século passado como este de aportar o nome de uma personagem. Isso é tão simples quanto ao fato de se hoje falares com alguém de meia idade para cima, e sem que necessariamente tenha grande cultura política, nos vários conselhos do Baixo Alentejo, imediatamente estas reconhecerem a figura humana que foi António Gonçalves Correia [1886 – 1967]. Nenhum de nós o conheceu, mas a sua memória foi resgatada essencialmente por uma iniciativa da Câmara Municipal de Castro Verde [conselho vizinho de Aljustrel onde nasceu] no CD “No Paraíso Real” [testemunhos orais da “revolta e utopia no sul de Portugal”] e, sobretudo pela biografia da autoria de Alberto Franco “A Revolução é a Minha Namorada. Memória de António Gonçalves Correia, anarquista alentejano”. Foi como encontrar esse elo de ligação que nos permitia apresentar sem olhares de esguelha, esse parente afastado de quem podíamos finalmente falar e captar a atenção de um sem número de pessoas que nunca haviam feito a ligação entre o que nos unia… É fascinante falar de um caixeiro viajante que levou a sua vida num compromisso individual impar. Como um homem só tanta marca deixou. A sua “excentricidade” ainda hoje recordada passava pela sua faceta de vegetariano e tolstoiano, num ambiente das lutas sociais da primeira metade do século XX: as lutas anarco-sindicalistas das minas de Aljustrel ou São Domingos ou Lousal das lutas dos camponeses do Alto ao Baixo Alentejo. Agora convêm frisar que esse seu vegetarianismo, a luta dos direitos dos animais e do naturismo que tanto foram sua marca não são um caso isolado na época. Como saberás a par das idéias anarquistas movia-se e crescia o movimento naturista que também por aqui teve o seu percurso, mas infelizmente a sua história está ainda por ser posta cá fora. Digo cá fora, pois felizmente um companheiro [José Tavares] me referiu há uns tempos atrás que estava precisamente fazendo um historial e análise sobre essa matéria com vista a publicação, pelo que há que aguardar, podendo assim de forma completa se poder responder à tua questão se houve experiências naturistas libertárias em Portugal. Gonçalves Correia foi nesse campo fundador em dois momentos da sua vida de duas comunidades, sendo a Comuna da Luz, a que se situou na sua vivência alentejana. O importante de referir ainda hoje é o elo de ligação que essas comunas estabeleciam com o meio social e humano envolvente, coisa que, por exemplo, não acontece com a maioria das ditas comunidades alternativas que aparecem aqui ou ali nos nossos dias. E mais importante, acho eu, é exatamente esse ponto de ligação que o naturismo, o amor livre, o vegetarianismo etc., devia estabelecer com as demais questões sociais. Essa ligação é essencial e por isso o anarquismo se viu sempre unido a esses modos de vida. Hoje em dia esses modos de vida viraram modas de vidas…
ANA > Referente à ecologia, essa é uma discussão e luta recorrente no dia-a-dia de vocês? Há alguma luta específica que levam a cabo, por exemplo, contra instalações de centrais nucleares? Ou algo mais local na região onde moram?
Samuel < Não tem sido algo que nos apliquemos de forma constante, mas é verdade que acaba por ser necessariamente muito recorrente. Talvez nesse aspecto a faceta que tem sido alvo de maior insistência da nossa parte tem sido a luta e campanha sobre os organismos geneticamente modificados. Desde há uns anos para cá temos estado em contacto mais de perto com algum pessoal e companheiros que estão trabalhando e produzindo na agricultura biológica à nossa volta, e através deles fomos nos aproximando das campanhas de informação que tem sido promovidas pela Plataforma Transgênicos Fora do Prato, ou mais recentemente pela associação Colher Para Semear [rede Portuguesa de Variedades Tradicionais], que visa a salvaguarda das espécies de sementes autóctones. Temos feito, sobretudo sessões de divulgação e algum material de divulgação [http://pt.indymedia.org/cidades/c1/imgpublico/1160141717020a8faca3.pdf]. Numa altura em que se pretende lançar cada vez mais sementes geneticamente modificadas à terra, é preocupante a falta de informação sobre o que são estas novas plantas, que tanto dano irão trazer aos já frágeis sistemas produtivos da nossa região, à sua dependência ao sistema financeiro e a fatores de produção exteriores, como o sistema de patentes, as empresas que os produzem etc. São assustadores os riscos ambientais para todos nós. Para além desta questão vemos que com o CCA temos oportunidade de nos aproximar de muito mais gente que na região está desenvolvendo projetos e campanhas referentes de modos diversos à ecologia, como é o caso do Centro de Convergência, projeto levado a cabo pelo GAIA, grupo ecológico que se fixou recentemente aqui pela zona num projeto contra a desertificação [na sua componente natural e social] e que fez, com muito interesse nosso, uma ponte entre as questões de preservação ambiental e as questões de preservação dos laços sociais e culturais das comunidades.
ANA > Recentemente vocês organizaram uma atividade com o pessoal da “Tour informativa Anti-G8”, que acontecerá em junho de 2007, em Heiligendamm, Alemanha. Vocês pretendem ir até lá? O que estão programando?
Samuel < Essa sessão de informação aconteceu pela oportunidade de uma companheira da Alemanha incluir na sua tour Portugal [esteve também em Lisboa e Porto]. O nosso interesse era saber não apenas o que se está preparando, mas poder discutir um pouco toda as estratégias que hoje formam esses eventos anti-globalização. Reagir um pouco e questionar sobre o que se estão transformando estas ações desde Seattle, desde o final dos anos noventa. Como todos sabemos, esses eventos […Genova, Praga, Gotemburgo, Escócia o ano passado etc.] colocaram na agenda do dia de novo a critica ao capitalismo. Até aí, por efeito também da evolução do leste europeu, aqui na Europa, soava datado falar de anti-capitalismo nos meios comuns da mídia e, claro, na sociedade em geral. Hoje por força das forças que a anti-globalização moveu, despoletada sobretudo pelos Black Blocks [quer se queira ou não os motores dos protestos, e mesmo da visibilidade daqueles que os criticam] a crítica ao capitalismo está aí e com cada vez maior força. Agora para aonde a vamos levar? Não creio que a linguagem de Porto Alegre tenha dado a resposta ainda, pelo contrário… Do mesmo modo, questionamos se as contra-cúpulas não serão agora puro circo, agradável é certo, mas circo à mesma, e com cada vez maiores e elevados riscos [veja-se este último em São Petersburgo na Rússia] para os ativistas. Daí que a questão chave que em Aljustrel se levantou na conversa é a pertinência dessas ações grandes, versus a proliferação de ações mais localizadas e locais. A questão dura ainda e é certo que obviamente uma não anula necessariamente a outra. As cúpulas anti-G8, como a que vai suceder são sobretudo importantes campos de aprendizagem e fortalecimento de saber e poder trabalhar em Rede. Daí que com um ano de antecedência as coisas se vão preparando. Houve já um acampamento de verão e em fevereiro um encontro internacional na Polônia vai se seguir. Depois a plataforma de ação na Alemanha reúne diferentes setores, isto é da igreja aos anarquistas, entre um sem número já de iniciativas previstas e em preparação para Heiligendendamn [e que não se resumirão a esses dias]. Para saber delas o melhor é ver nos sites de coordenação da luta. Na seqüência do debate fizemos um pequeno folheto [Informa e Resiste nº1] sobre o assunto com alguma informação relevante e contatos que podes ter acesso pelo nosso blog [goncalvescorreia.blogspot.com].
ANA > E como vai o anarquismo em Portugal?
Samuel < Pergunta óbvia, mas infelizmente ainda incomoda em responder. Quando por um lado temos um cenário cada vez mais favorável às idéias anarquistas, ou visto por outro lado, uma altura que por força da violência dos estados, do capital e desta sociedade veio a demonstrar cada vez mais a pertinência da crítica e da luta anarquista, a resposta lamento não é muito animadora. Há dois anos atrás houve ocasião de se fazer um balanço da situação com a promoção, já em si atribulada, da Conferência Libertária em Setúbal, que pretendeu juntar um grande número de grupos e indivíduos. O encontro aconteceu e com bastante participação, mas descambou num confronto de egos e protagonismos que, sobretudo confirmou a desilusão em muita gente. Pelo que uma conclusão chave foi a necessidade de se constituírem afinidades mais solidamente. Esse processo está em curso lentamente, e iniciativas como a Caixa de Resistência Anarquista ou a maior colaboração entre espaços libertários apontam, assim espero, nesse sentido. A todos pesa, porém a necessidade de se poder alcançar uma maior organização, pelo que a meta não caiu. Por enquanto no balanço geral, a atividade anarquista resulta ainda movida por um círculo reduzido, embora claramente com campo para crescer. Onde estou, vejo possibilidades para isso, espero que em Lisboa, Porto e noutros grandes locais, o mesmo venha a acontecer…
ANA > “Caixa de Resistência Anarquista”? Exatamente qual é o objetivo desta iniciativa?
Samuel < A CRA surgiu há cerca de um, dois anos atrás pela tal intenção de aproximação e colaboração de alguns grupos anarquistas depois da Conferência Libertária em Setúbal. A idéia surgiu em juntar não apenas as vontades, mas os esforços e o vil metal, de forma a poder pagar e conseguir pôr cá fora muitas daquelas idéias que não passam disso mesmo, porque falta o suporte financeiro. Como resultado disso foram já feitos alguns milhares de autocolantes diversos e um cartaz genérico de propaganda anarquista, sempre remetendo para um blog que redireciona o interessado para os vários grupos. O projeto reúne assim de momento já em afinidade alguns grupos, entre os quais nós, e prevemos que o mesmo se venha a alargar no futuro. Para além de querer garantir o financiamento maldito, onde cada grupo aporta os seus donativos através do ganho de edições conjuntas, de concertos, jantares etc., a idéia é também ter um fundo que possa vir a servir [como já o fez para o caso do António Ferreira de Jesus] para custas judiciais quando a situação e a repressão apertam.
ANA > António Ferreira é aquele preso anarquista?
Samuel < Sim, e muito facilmente se diz exatamente que é o “último preso político” ou “anarquista” nos cárceres portuguesas. Porém julgo que essa perspectiva não só é demasiado redutora para com o próprio António, como é extremamente redutora para a perspectiva que ele tem e nós partilhamos acerca do sistema penal e prisional. A nossa perspectiva abolicionista reside exatamente em afrontar as prisões no seu todo, pois se lutamos por novas condições de vida e de sociedade, a nossa solidariedade não se deve restringir apenas aos jogadores do nosso clube. Obviamente à cabeça da solidariedade surgem exatamente as pessoas como o António, que nesse aspecto é figura principal em Portugal, que resistem com todas as letras nas prisões. E estamos a falar de uma resistência de vida, de quem já passou mais tempo lá dentro do que cá fora. Essa frente de batalha tem que ter necessariamente um outro lado cá fora, e o “movimento” anarquista nunca se desligou disso mesmo. Atualmente os grupos de apoio a presos e/ou sobre as prisões estão a nível dos anarquistas reduzidos a uma ação de menor intensidade, uma vez que se foram desfazendo os coletivos da Cruz Negra Anarquista que existiam por Lisboa e Almada, mantendo-se apenas o do Porto. Prossegue, porém, mais ou menos através do coletivo Corta Correntes de Setúbal, o apoio ao António, e eles melhor que eu podem desenvolver o seu caso [resumidamente o António prossegue envolvido em querelas com os serviços prisionais por denuncias da realidade envolvente e por outro lado prossegue a luta para que seja posto cá fora face aos atropelos que a justiça tem vindo a fazer negando a sua saída que o cúmulo jurídico assim determinava há muito]. Por outro lado, nesta matéria de prisões há que referir para Portugal o ótimo trabalho que a ACED tem feito. Trata-se de uma associação [Associação Contra a Exclusão e pelo Desenvolvimento] que evoluiu de uma posição de reforma para mais abolicionista, e que sobretudo está “dentro” das prisões e é a voz de protesto que ainda subsiste por cá.
ANA > Existe relação dos anarquistas portugueses com as questões dos imigrantes que chegam no país? Algum trabalho em conjunto?
Samuel < Relação é claro que existe a nível das preocupações e das lutas inerentes. Porém, do que sei apenas no Porto se tem desenvolvido com maior regularidade um esforço nesse sentido através da Assembléia Libertária do Porto, mais concretamente pelo espaço Musas e pelo Terra Viva. É, aliás, um tema recorrente no Indymedia português, onde as questões da imigração e da fortaleza européia que nos acossa a todos [de fora e de dentro] constituem obrigatoriamente uma chamada de atenção. O trabalho, no entanto de maior destaque que se tem feito em Portugal ultimamente cabe à Associação Solidariedade Imigrante, como seja o seu Grupo Pelo Direito à Habitação [em várias frentes de luta contra o desalojo de bairros de imigrantes], no qual obviamente colaboram alguns companheiros.
ANA > Que livro anarquista recém lançado em Portugal mais te apreciou? Por quê?
Samuel < Não tanto um livro, mas a nova publicação [vão com dois números] do Centro de Cultura Libertária de Almada. Estes nossos companheiros de estreita colaboração com o CCA de Aljustrel, puseram cá fora a HÚMUS uma publicação de que só tenho pena ser ainda somente em formato de fanzine e fotocópia. Pela qualidade dos textos e gráfica merecia ser uma edição em maior escala e difusão. São, sobretudo textos de reflexões, mas sinal dos bons tempos que podem vir desde o Ateneu de Almada. Fora isso o panorama de edições em Portugal é ainda muito pobre, resistindo nas margens do anarquismo e da literatura alternativa apenas algumas editoras. Faltam algumas mais comprometidas que completem esse campo tão necessitado.
ANA > Além de Brasil e Portugal, tem conhecimento da presença anarquista em outros países de fala lusa? Um tempo atrás fiquei sabendo de pequenas movimentações em Moçambique...
Samuel < Desconheço por completo, e fico ansioso para que possas dar mais novidades nesse ponto!
ANA > Imagino que algumas histórias curiosas, engraçadas já tenham se passado no CCA. Poderia contar uma? [risos]
Samuel < Mais do que uma ou outra história, julgo que o bizarro mesmo é quando já noite adentro e a festa avançada se misturam punks com os mais castiços personagens de Aljustrel, que é recorda-te uma pequena vila do interior rural no Alentejo, pelo que esse cruzar cria sem dúvida alguma um cenário muito próprio [e que faria uns belos filmes…].
ANA > Considerações finais... Obrigado!
Samuel <>
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