14.1.08

Recordar o 18 de Janeiro de 1934


Na próxima Sexta-feira, dia 18/1, recordemos a revolta operária de 18 de Janeiro de 1934.


No Porto no Terra Viva, na Rua dos Caldeireiros, 213 PORTO (perto da torre dos clérigos) avança com um Debate organizado pelo Círculo de Estudos Sociais Libertários /Terra Viva!AES - em colaboração com o Movimento Cívico "NÃO APAGUEM A MEMÓRIA" e no dia seguinte, sábado, às 17h30 no ESPAÇO MUSAS (Rua do Bonjardim, 998 - Porto)o Círculo Anarquista Libertário do Porto organisa uma Conversa e Jantar sob o nome de "A insurreição de 18 de Janeiro: Cercados e perseguidos".

Mais aqui a Sul, em SINES, a autarquia inaugura a "Exposição documental. O 18 de Janeiro de 1934 - No País e em Sines" que fica até 3 de Março no Centro de Artes de Sines. Em 1934, nessa "vila onde se destacam as fábricas, as oficinas, a pesca, a agricultura e alguns serviços, a greve durou um dia, mas registou uma adesão em massa, embora pacífica. Entre os organizadores encontram-se artesãos, pedreiros e trabalhadores. Outros grupos são os dos carpinteiros, pintores, trabalhadores rurais, operários das várias fábricas corticeiras e de conservas de peixe, padeiros, barbeiros, comerciantes." Na inauguração da exposição, pelas 18.00 de sexta-feira, realiza-se uma conversa com o coordenador da URAP - União de Resistentes Antifascistas Portugueses, Aurélio Santos, e o sineense Américo Leal, que dá conta dos eventos de Sines no seu livro “Testemunhos” (2001).
PORTO:

Não é de mais ainda aconselhar a leitura da obra de Fátima Patriarca "Sindicatos contra Salazar. A Revolta do 18 de Janeiro de 1934" (Imprensa de CiênciasSociais, 2000) de que deixamos aqui parte da resenha que mereceu na Análise Social por Henrique N. Rodrigues:

(…) 1.º Não tem qualquer sentido reconduzir o 18 de Janeiro à Marinha Grande. Fica mais do que demonstrado que a versão oficial (interesseira, por natureza) e a versão do Partido Comunista (também obviamente interesseira) — ao prestarem destaque quase único à Marinha Grande, aos vidreiros e à liderança comunista não logram comprovativo na realidade dos factos.
2.º Ganha sentido, sim, «recolocar» o 18 de Janeiro na sua dimensão histórica exacta: um movimento operário insurreccional, que visava a reconquista das liberdades sindicais, a par do derrube do regime do Estado Novo.
3.º Neste contexto, a Marinha Grande é um episódio «mediático» (assim o diríamos na linguagem corrente), porque envolve uma ocupação da vila pelos revoltosos — ainda que de duração muito curta —, o assalto aos correios e a rendição da GNR. Sobretudo esta é, de facto,
paradigmática. Mas não há greve, não houve «soviete» nem içar de bandeira vermelha nos Paços do Concelho.
4.º O episódio da Marinha Grande é, por outro lado, reposto quanto à autoria do seu comando: se é verdade que a CIS e o PC têm peso significativo na direcção do Sindicato Nacional dos Vidreiros, não é menos verdade que se comprova a participação empenhada da CGT e
de trabalhadores de outras correntes político-sindicais.
5.º Fica igualmente comprovado que o movimento operário insurreccional, de que expressões concretas vão ter lugar para além da Marinha Grande, se gera e desenvolve com oconcurso das duas principais correntes sindicais — a anarquista e a comunista — e com o envolvimento dos sindicalistas socialistas ( a Federação das Associações Operárias) e da corrente sindicalautónoma (COSA — Comité das Organizações Sindicais Autónomas).
6.º Fátima Patriarca descreve bem os entendimentos e desentendimentos surgidos entre estas várias correntes e clarifica melhor o seu peso respectivo. É indubitável que a CGT e a corrente sindical anarquista tiveram, neste processo, uma influência marcante. Isto não elimina o papel dos comunistas — que não pode ser esquecido ou menorizado —, mas repõe a verdade essencial: e essa é a do contributo das várias tendências sindicais (anarquista, comunista, socialista e a dos autónomos), segundo os factos que conseguiu demonstrar.
Não me parece que seja muito importante, hoje, «contar espingardas», ou seja, procurar apurar se os anarquistas foram mais decisivos do que os comunistas, ou se os socialistas ou os autónomos não tiveram significado relevante. Houve uma convergência de esforços, emergiu uma implicação de todos — mesmo que não tenha ocorrido uma unidade estratégica, organizativa, táctica, como parece evidente pela comprovação dos desencontros, pelas falhas de articulação, pelas recriminações que, «antes e depois», choveram de uma banda e de outra, em recíprocas acusações.
7.º Neste contexto, importaria retirar a conclusão de que o «18 de Janeiro» merece ser comemorado, doravante, não apenas na Marinha Grande, como tem sido tradicional, mas também em Silves, em Sines, em Almada, zonas onde a «história que se fez» deixou na tumba as ocorrências — essas, sim, muito significativas — do que ali se passou; mas onde a «históriaque hoje rompe novos véus» já permite, sem margem para dúvidas, reconhecer que o «18 de Janeiro» é ali que conquista contornos historicamente mais iluminantes. Em suma, Silves, Sines, Almada, precisam de ser «transladadas» da campa rasa em que as colocaram para o «panteão» do verdadeiro «18 de Janeiro».
http://www.ics.ul.pt/publicacoes/analisesocial/recensoes/rec162/henriquerodrigues.pdf

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