14.3.10

Saiu a Alambique






Do editorial…

As páginas que se seguem cruzam-se propositadamente entre si. Nelas surge um olhar para um passado (recente), que não tem outro objectivo senão o de querer experimentar agora um possível futuro. Quisemos reaver uma história cujo silêncio dos seus protagonistas – a geração dos nossos pais – é muito mais incómoda do que a lembrança diária de vivermos numa sociedade alienada. Daí a importância, como nos diz Jorge Valadas, de recuperar na nossa memória social as virtualidades da insurreição social do 25 de Abril. E ver que o problema não foi a derrota, mas a integração e a submissão desses homens e mulheres cujos valores transmitidos aos seus filhos assentaram unicamente nos valores consumistas desta sociedade capitalista do bem-estar e do progresso.

Hoje não se luta por grandes ideais. Mas os anarquistas sabem-se acompanhados na crescente conflituosidade social de quem hoje luta pela sua sobrevivência quotidiana. Por mais “planos tecnológicos” de desenvolvimento que nos rodeiam e que nos prometem, o sistema é cada vez mais incapaz de esconder os sinais da sua própria crise e falência. O cada vez maior aparato estatal e de controlo que nos cerca, apenas nos envolve cada vez mais nesse estado de latente conflito, sobre o qual a principal preocupação que reina, é a de que por via do medo nos digladiemos apenas uns com os outros e não saibamos dirigir pronta e directamente o ataque.

A necessidade de referências, é pois, mais do que nunca necessária para ajudar a agir e a pensar o futuro. Uma das referências que temos insistido surge em torno da “ruralidade”. Porque no evoluir da relação do Homem com o Campo se explica hoje boa parte do desastre da presente humanidade, edificada que foi esta numa relação do domínio tecnológico e economicista sobre a natureza. Uma relação que esvaziou e impediu a sã relação do homem com a terra, naquilo que era a ruralidade. Reivindicar essa memória telúrica com a natureza, não só é urgente como pode acontecer em várias e diversificadas experiências que podemos empreender.

Estes caminhos futuros não serão possíveis sem um compromisso, antes de tudo individual, e o qual, por diversas formas, assumirá um sem fim de possibilidades. E para que ainda estejamos a tempo, não há lugar nesse caminho ao consenso com o desenvolvimento capitalista que agora dizem de sustentável. Como não há tempo para que as nossas vidas sejam mediadas pelo sindicalismo que negoceia a “paz social” com os patrões, ou com os ecologistas que se esgrimem por um minuto verde nestas horas de morte… “A ruptura, quando existiu e se existir de novo, só será possível a partir de um movimento social profundo que põe em causa os fundamentos da produção actual, a sua lógica”.

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